Já faz duas semanas que voltamos dos Estados Unidos. Ainda pretendo publicar várias postagens sobre as bênçãos daquele período, sobre as quais já comecei a escrever. Entretanto, agora, quero inserir um relato sobre uma visita que fiz ontem, juntamente com duas outras senhoras que fazem parte da liderança do grupo “Conte Comigo”. Nosso trabalho é com as esposas dos seminaristas que vêm de todas as partes do país para estudar no seminário da nossa denominação, localizado em Campo Belo (Rev. José Manoel da Conceição – JMC). Normalmente, o nosso envolvimento tem sido mais com a parte espiritual e relacional, promovendo estudos e encontros com elas.
Aos poucos, entretanto, Deus está começando a chamar a nossa atenção à possibilidade de também interagirmos com as necessidades materiais destas famílias, especialmente com a chegada do frio. Desta vez uma senhora do nosso grupo (Dona Oneidia) pediu a ajuda de uma igreja, com doações focadas especialmente em aliviar o frio daqueles que vieram de lugares mais quentes. Assim, ontem à tarde, fomos receber o que angariaram, propositadamente no dia em que senhoras da igreja se reúnem para costurar e fazer trabalhos de artesanato. Tendo levado a minha máquina fotográfica mais caneta e papel, tornei-me a repórter involuntária desta visita, para compartilhar o que vimos com as outras senhoras da liderança do nosso grupo. E já que eu estava com a “mão na massa”, resolvi blogar sobre o assunto.
Fomos levados a uma sala cheia de mesas, máquinas e armários, onde estavam umas dez mulheres, mais uma menina, sentadas ao redor das mesas, trabalhando e conversando. Desta vez, não vi ninguém costurando—todas estavam bordando, fazendo crochê ou pintando. Uma senhora chamada Claudia nos fez as honras, como cicerone, e foi explicando o trabalho, daquilo que nos pareceu uma bem-estruturada obra de beneficência.
É um projeto multi-facetado que se auto-sustenta através dos artesanatos que são fabricados, com objetos novos que conseguem como doações e com outros usados que são coletados. Uma grande parte é vendida num único bazar na primeira semana de dezembro. Encontrei uma página na Internet
http://www.ebenezer.org.br/saf/oficinacost.html sobre esta oficina, mais conhecida como “Sala Elisa Lobo” e, portanto, vou copiar de lá algumas informações, aqui, para me poupar trabalho.
A manutenção desta oficina se dá através de um Bazar Beneficente realizado uma vez por ano, nas dependências da Igreja. Para esse bazar também confeccionamos diversas peças (mesa, banho, etc) e artesanato em geral. Também na área social esta oficina além de atender os necessitados do bairro com doação de roupas, promove campanhas, aos Missionários, à Casa Abrigo, à Missão Caiuá e seu hospital, e também atende à todas as solicitações da Federação de SAF’s do nosso presbitério quando é pedido doações à asilos, missionários, etc.
A mão de obra para a realização dos trabalhos dessa oficina é feita através da colaboração de muitas irmãs, algumas na própria sala e outras em suas próprias casas.
D. Claudia foi nos mostrando vários objetos terminados ou parcialmente completados para vender no bazar. Havia todo tipo de itens feitos em tecido, com bordados, rendas, pinturas… Caixinhas e caixonas e vários objetos de madeira feitos com découpage… Outros pintados à mão…
À primeira vista, parecia que toda a atenção estava sendo focada apenas neste evento, mas logo entendemos que o bazar é a mola-mestre de um esforço beneficente que ocorre continuamente durante todo o ano, e que abrange muito além dos objetos criados. Além da montanha de roupas e cobertores que nos esperavam como resultado de uma curta campanha, vimos uma amostra dos enxovais de bebê que preparam para quem necessita.
Também ficaram bem contentes quando souberam que a Minka (uma das coordenadoras que estava comigo) estaria indo para a Missão Caiuá no fim de agosto, de carro. Imediatamente puxaram umas dez caixas de remédios novos e outros objetos que estavam aguardando transporte para aquele local e, quando partimos, saímos com o carro entupido de doações—para o seminário e para a missão.
Foi muito prazeroso ver o entusiasmo destas senhoras. Fomos ao redor das mesas, examinando as obras de arte e conversando com as artesãs. A menina me mostrou como ajudava, havendo pintando o fundo azul de uma caixa coberta com découpage pela senhora ao seu lado. Soubemos que existem pessoas que participam, mas que estão impossibilitadas de estar ali. As mulheres que vimos ontem representam apenas uma pequena amostra da turma que trabalha de mil maneiras em prol da mesma causa. Enquanto falamos, algumas aproveitaram para perguntar mais sobre o nosso ministério também.
Minka fez um pequeno estudo em Filipenses 4, mostrando como o apóstolo Paulo ficou contente com os donativos dos filipenses, não apenas porque supriram as necessidades dele (associando-vos na minha tribulação), demonstrando amor e cuidado, mas também porque ele sabia que esta é a atitude ideal para o cristão (o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito). Paulo descreveu a reação de Deus—dizendo que o que veio da vossa parte era como um perfume subindo aos céus (aroma suave). O sacrifício dos filipenses a favor dele era não apenas aceitável, mas aprazível a Deus. E Minka lembrou que a Bíblia reforça este ensino sobre o valor da generosidade e a importância do socorro aos necessitados quando o mesmo Paulo cita Jesus na sua conversa com os presbíteros de Éfeso, afirmando que mais bem-aventurado é dar que receber (Atos 20.35).
Pelo fato que esta oficina já perdura há mais de que 40 anos, podemos ver que as mulheres da Igreja Ebenezer já aprenderam esta lição há muito tempo. E que estão passando a visão para seus descendentes e os novos membros, sejam transferidos ou convertidos…
Mobilizaram-se e agora sabem transformar pouco em muito para ajudar o maior número de pessoas possível. Mesclam suas habilidades com criatividade enquanto manipulam os tecidos, as texturas e as cores que lhes vêm às mãos para formarem objetos únicos e belos. Fazem com que objetos largados ou danificados sejam aproveitados, consertados ou renovados—frequentemente com toques artesanais em que o belo é unido ao útil, somando alegria e estética às vidas das pessoas que as recebem ou compram.
Não tive tempo para descobrir mais detalhes sobre as experiências do dia-a-dia delas. Mas o meu convívio com os trabalhos beneficentes de outras igrejas e comunidades me faz saber que um esforço bem sucedido exige a dedicação de muitos à causa. Uma causa nobre, que sempre deve fazer parte do nosso viver diante de Deus—a de nunca fechar os olhos às necessidades de outros seres humanos. Uma causa que vai ao encontro não apenas das carências espirituais com cultos, reuniões e ensino, mas que enxerga como a ajuda com necessidades materiais pode fazer do recebedor um irmão ou uma irmã muito mais útil no reino de Deus (ou um inimigo desarmado). E do entregador uma pessoa bem mais qualificada a falar da ira e da misericórdia do nosso Deus, Aquele que é justiça, mas que também é amor—um amor muito maior do que o carinho e compaixão que estão sendo demonstrados pelos seus representantes no momento da interação.
Percebo que quando um projeto de beneficência é contínuo e bem organizado, o reconhecimento que a liderança é capaz de identificar e suprir real necessidades faz com que muitos membros da igreja ou comunidade criem hábitos saudáveis convergentes com o projeto. Assim, assimilam um estilo de vida em que logo separam e re-encaminham tudo que não tem mais proveito ou que nunca terá uso para sua pessoa ou família. E sei que alguns ficam tão envolvidos (não apenas no doar, mas no criar e encaminhar) que sentem falta quando não podem estar presentes ou participantes. Pois é muito, muito bom ser remédio e solução, luz e bênção num mundo em que todos nós enfrentamos, em algum momento, doença, tristeza, carência, perda e escuridão!
Também aprendi que é preciso muita capacidade, paciência e sabedoria espiritual da liderança (e joelhos bem calejados em oração) para harmonizar e coordenar os variados esforços, talentos e idéias criativas de pessoas extremamente diferentes na sua maneira de ser e agir. Você já parou para pensar quantos elementos e talentos se reúnem num projeto deste tamanho? É só começar a participar, que descobrirá o que podemos aprender quando nos colocarmos, por inteiro, a serviço de Deus.
Podemos começar olhando as vantagens e oportunidades oferecidas por nossa profissão (quer sejamos proprietários, autônomos ou funcionários) e pelos contatos que temos (com vizinhos, parentes ou colegas). Assim podemos ajudar no fornecimento melhor e mais barato de matérias primas, ou prover serviços para confeccionar artesanatos; consertar objetos, ou adquirir itens de primeira necessidade para uma cesta básica ou enxoval, ou em resposta a calamidades, tais como incêndios, acidentes, roubos, enchentes ou vendavais. E isto pode e deve ser tanto um projeto individual quanto algo em conjunto. Além disto, os nossos veículos podem servir (dirigidos ou emprestados por nós) para buscar e levar os objetos e pessoas envolvidas.
Podemos usar ou desenvolver não apenas os nossos talentos artísticos, mas também os relacionais ou organizacionais. Podemos empenhar a nossa voz e a nossa mente, sabedoria e experiência para administrar, coordenar, pedir, cobrar, encorajar, ensinar, treinar, pechinchar, vender, comprar, apaziguar, chamar atenção, orientar, encaminhar…
Também há um amplo espaço e até necessidade para aqueles e aquelas que se especializam em acompanhar ou seguir o apoio dado com palavras de estímulo, consolo ou alerta… Assim a contribuição pontual pode ser convertida em beneficência prolongada. O contato momentâneo pode virar relacionamento contínuo. Cada um servindo, e crescendo, a partir da sua própria herança familiar, social e espiritual. Constantemente procurando proceder de acordo com os princípios de Deus e tentando lembrar a todas e a todos que é por causa dEle, por Ele e para Ele que existe a nossa própria versão da “Sala Elisa Lobo” .
Agora os objetos doados por esta “sala” estão sendo encaminhados às famílias dos seminaristas pela irmã que as solicitou. Crianças saberão que Deus respondeu às suas orações por cobertores e roupas de frio mais adequadas ou mais bonitas. Outras pessoas com capacidade de costurar encurtarão ou aumentarão as mangas dos paletós e as pernas das calças dos ternos doados para os futuros pastores das nossas igrejas. As suas esposas terão mais opção de agasalho e vestimentas….
Enquanto isso, os armários que guardavam os remédios já esperam o resultado de novas campanhas e projetos. E as mulheres (muitas, com o apoio das suas famílias) continuam atentas e prontas—orando, projetando, planejando, pesquisando, trabalhando, compartilhando, aliviando—não apenas nas terças-feiras mas em todos os dias da semana.
E através deste país e ao redor do mundo, podemos ter certeza que outras irmãs e outros irmãos também estão se empenhando em preencher as necessidades dos seres humanos ao seu alcance. As evidências da sua compaixão aliviarão e encorajarão seus irmãos na fé. Mas, como já disse antes, também abrirão portas para os transmissores da maravilhosa mensagem da salvação oferecida por Deus—pois o carinho e generosidade destes servos são apenas um fraco reflexo do amor sacrificial daquele que morreu na cruz em nosso lugar.
E eu e você—o que estamos fazendo? Temos bens e dons que ainda não colocamos a serviço de Deus? O nosso pastor, os diáconos da nossa igreja, as lideres do trabalho feminino, os coordenadores das atividades das crianças e jovens, os nossos filhos e parentes, e todos os demais que se empenham em ministérios específicos, sabem que podem contar conosco se a solução talvez esteja ao alcance do nosso bolso ou da nossa mente ativa e criativa? Ou já recusamos tantas vezes que eles nem chegam mais perto de nós para conferir a nossa vontade de abençoar?
Já tivemos a oportunidade de primeiro ajudar para depois aconselhar (e ser ouvido)—quando vimos que os problemas tinham causa espiritual? Ou retivemos a ajuda para reforçar o castigo que achamos que Deus devia estar querendo lhes dar?
Quantas pessoas existem no mundo que podem louvar a Deus pelo amor que já demonstramos, de maneiras concretas, individual ou conjuntamente, nas horas em que elas não podiam mais resolver seus problemas sozinhas? É fato comprovado que zelamos por aqueles por quem oramos. Então, quantos projetos e pessoas necessitadas fazem parte da nossa lista de oração?
Vamos ficar atentos, ainda nesta semana, se não existe algum projeto já iniciado onde os participantes estão orando ao Pai por dinheiro, por apoio, por ajuda, por participação, por transporte, por pessoas que se prontificam para, pelo menos, orar também…
Vamos pedir a Deus para escancarar os nossos olhos e os nossos corações, começando com as carências dos nossos parentes (para evitar a condenação de 1 Tm 5.8), continuando com a necessidade dos nossos irmãos na fé (tanto os que estão perto quanto os que estão distante) e culminando com a percepção da miséria “dos de fora”—tanto o material quanto o espiritual. O resultado irá muito além do que imaginamos. De fato, só vamos saber no céu como os nossos pequenos esforços redundaram para o bem do reino.
Encerro com as palavras de Paulo, contrastando a generosidade com a avareza (ele não está falando sobre evangelização):—E isto afirmo: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará…. Aquele que dá semente ao que semeia, e pão para alimento, também suprirá e aumentará a vossa sementeira, e multiplicará os frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos em tudo para toda a generosidade…. Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus…. (2 Coríntios 9.6-11)
Abraços, Betty
Querida Betty,
Dou graças a Deus por sua vida. Que trabalho excelente você está fazendo neste blog!
Este artigo é mais um dos muitos que alimentam, encorajam e incentivam as mulheres a se importarem com assuntos importantes, e alguns até que ainda não haviam nos chamado a atenção.
Obrigada,
Meire
Querida Betty,
Muito me alegro ao ver nosso Deus, Criador do céu e da terra, dando dons e talentos diversos a pessoas diversas.
Parabéns pelo seu blog e pelo tempo investido para abordar todas as facetas de nosso encontro (e um pouco mais).
Estimada irmã Beth,
Parabéns pelo bolg.
Alegro-me também por perceber aqui que o ministério do “Conte Comigo” – que conheci ainda embrionariamente quando diretor do JMC – está de vento em popa. Deus seja louvado!
E muíssimo obrigado pela visita de vocês à “Sala Elisa Lobo” em nossa Igreja Ebenézer bem como pelo seu relato aqui. Tudo isto fez muito bem para o coração daquelas que servem a Cristo naquele ministério e serviu de estímulo para elas.
O “Conte Comigo” pode continuar contando conosco da Ebenézer.
Abraço fraternal do conservo,
Rev. Paulo Fontes
Prezada Dna. Beth,
Que alegria ver o amor de vocês do Conte Comigo e das irmãs da IP Ebenézer expresso em ações de solidariedade para com as famílias dos seminaristas. De fato, eles precisam muito. Gestos assim ficarão marcados para sempre na vida destes irmãos. Louvado seja Deus pela vida das irmãs.
Abraços,
Ageu.
Que bom receber comentários dos dois diretores do Seminário JMC com quem já trabalhamos! Primeiro daquele que, no início, incentivou e possibilitou o trabalho do Conte Comigo para apoiar as esposas/noivas dos seminaristas, juntamente com o capelão Onézio. E, depois, do outro que soube somar iniciativa e capacidade criativa (e a sua esposa como cooperadora) para fazê-lo CRIAR RAÍZES e começar a CRESCER. Contamos com o apoio de muito mais irmãos e irmãs para que o nosso projeto chegue a FLORESCER e DAR MUITOS FRUTOS!
Abs, Betty
Cara Betty,
Como membro da Ebenézer tenho muito orgulho do trabalho de “formiguinha” destas queridas irmãs, e fiquei muito feliz por vê-lo divulgado em sua página.
Graças ao Senhor, elas tem a visão de fazer o trabalho social, sem perder de vista a evengelização.
No caso da Sala Elisa Lobo, a evangelização acontece em diversos momentos: durante o trabalho, no momento do socorro aos necessitados e no dia do bazar.
Como você citou no texto, existem mulheres que, como eu, não têm disponibilidade para comparecer aos encontros semanais, porém contribuem com doações, trazendo ou solicitando donativos, e trazem convidados(as) para prestigiarem o bazar.
Oremos para que o Senhor continue nos iluminando e guiando para a realização da obra que não é nossa, mas dEle.
Abraços,
Tânia
Graça e paz!
Belo trabalho. Inspira-nos a continuar a servindo a Deus.
Ethel