Sempre tenho preferido ficar bem longe dos holofotes. Das pessoas que têm lido as minhas crônicas na revista feminina (SAF em Revista) da nossa denominação (IPB) ou as lições nas revistas de Escola Dominical (como Filhos Adultos no Lar, Lidando com a “Terceira Idade”, Pai, posso ir ao Show?), poucas sabem quem eu sou. Fora dos meus escritos, minhas contribuições presenciais, quase sempre, tem sido em nível de família, escola e igreja local ou acompanhando meu marido, Solano, quando ele sai para falar ou pregar em algum lugar. Sempre tenho sido tímida, aceitando aparecer ou liderar apenas quando for intimada ou empurrada. Quando necessito falar em público, perco noites de sono, me preparando, preparando…
Por que isto? É muito difícil para Solano entender o que sinto, apesar de respeitar a minha retração. Ele sempre me incentiva para sair do meu casulo (e conseguiu em termos dos meus escritos e algumas obras sociais em que tenho me empenhado). Mas eu não tenho o conhecimento e nem a memória dele. Ele é capaz de recapitular os pontos, tintim por tintim, de algo que escreveu há 15 anos atrás (ou mais!). Eu não. A minha mente funciona de maneira totalmente diferente. Só posso debater um assunto (mais ou menos) inteligentemente (até um artigo meu) se tiver recapitulado toda a matéria, logo antes. E olhe lá!
Por um lado, é verdade que sou capaz de decifrar e entender a maioria dos debates teológicos em que Solano se envolve. Posso até interagir com ele, dando “pitacos” sobre como modificar ou melhorar este ou aquele argumento. Mas não me peça para comunicar aquilo que aprendi, de maneira ordenada. Ou para explicar a alguém, de cabeça, por que creio em batismo infantil ou dízimo. Especialmente de forma oral num ambiente desconhecido! As chances de me atrapalhar e passar por vergonha são quase 100%! Por escrito, ainda vai, se eu tiver um tempo em que possa pesquisar e fazer um esboço do raciocínio numa vez só. Mas estes espaços de tempo são muito raros….
Então, isto ajuda a explicar porque prefiro escrever a falar em público. Mas por que blogar, já que também fico muito mais vulnerável e exposta? Tenho pensado muito sobre isto. Por que adicionar mais palavras ao Babel que já existe na Internet? Quais seriam razões válidas para entupir ainda mais a blogosfera. Penso sobre os riscos da empreitada; sobre o tamanho da tarefa… Mas também sobre as possibilidades de ser (e receber) uma bênção… Afinal, quem não arrisca, não petisca…
Meu marido já tem um site e também participa de um blog . Havíamos conversado sobre ele separar um cantinho do site para mim porque recebo pedidos de vez em quando por cópias de histórias minhas que alguém leu no passado. Seria, portanto, interessante ter um local para disponibilizar aquilo. Mas, David, nosso filho mais velho, quando soube deste desejo, resolveu criar algo para mim independentemente, dando-lhe o nome de “Crônicas do Cotidiano” pois seria a “casa” das “histórias de Isabel”. E eu tenho aprendido a mexer com ele—uma grande vitória para mim porque normalmente fujo dos aspectos técnicos da informática. Portanto, agora, sei “administrar”, adicionar um “artigo”, designar “categorias” e datas, inserir fotos, e algumas coisas mais no meu site.
Acontece que, de fato, aquilo que está servindo como meu site, realmente é um blog. E eu olho aquilo e penso: e se eu escrevesse ali, não diariamente, mas de vez em quando… O que aconteceria se eu trabalhasse e compartilhasse algumas coisas que agora entram no meu diário ou que tenho colocado em e-mails para amigos ou parentes? Ou se eu re-trabalhasse alguns traumas que descrevia ou assuntos que debatia nas minhas correspondências de outrora. Seria bom? Seria ruim?
As minhas cogitações poderiam servir para animar ou incentivar? Será que já atingi maturidade espiritual ou emocional que poderia beneficiar alguém? Será que as reflexões que surgem da mistura de culturas que é a minha realmente são relevantes ou significantes? Deveria continuar a me limitar apenas a ser “publicada” quando surgem convites para participar de uma revista feita de papel? E se eles não vierem mais?…
Almejo, pelo menos de vez em quando, compartilhar (dando e recebendo) conteúdo significativo de maneira atraente e/ou único. Gostaria de fazer pensar, de ajudar a relembrar momentos especiais, de auxiliar a avaliar, apreciar, ou lidar com os eventos do dia-a-dia, de oferecer esperança, sempre trazendo à tona o fato que absolutamente tudo que gozamos e sofremos pode ser diferente, tolerável e significativo quando procuramos enxergar os eventos do ponto-de-vista de Deus e servi-Lo fielmente no meio deles. (Tudo posso, naquele que me fortalece—Filipenses 4.13). Existem tantas orientações e promessas para aqueles que receberam Jesus, o Filho de Deus, como seu Salvador. Estão todas na Bíblia, mas uma história, uma meditação ou uma pequena ponderação pode ser uma maneira de traze-las ao conhecimento ou à memória de alguém.
Creio que seria prazeroso, talvez, poder bater papo com pessoas que apreciam tanto o conteúdo quanto a forma em que escritos forem apresentados. Meu sonho como escritora é que aquilo que se inicia como leitura possa aproximar-se de literatura. Que, de vez em quando, possa cintilar um pequeno lampejo de brilhantismo, ou pelo insight por trás das palavras, ou pela maneira em que foram ditas. São raros os momentos em que acho que alcanço esta proeza. Tenho certeza que existem pessoas muito mais dotadas e qualificadas que eu que poderiam contribuir para a qualidade e conteúdo dos textos disponíveis para (especialmente) as mulheres evangélicas, em termos de ficção, poesia, contos, meditação, biografia, discipulado, aconselhamento prático e bíblico… Mas, enquanto elas não aparecem em quantidade (e ainda se aparecerem), vou tentar desenvolver meus talentos nesta direção, desta vez fora do caderno e dos e-mails onde normalmente escrevo…
Mas, voltando ao assunto. Uma coisa eu sei. Meu blog não deve ser meu diário. Diário eu também tenho. Nele posso desenvolver pensamentos enquanto escrevo e medito, e ninguém vai questionar meu raciocínio. Nele posso começar com uma atitude e terminar com outra, enquanto reflito com a Palavra de lado. Posso criticar ou questionar pessoas e situações, com detalhes e nomes. Não quero fazer isto aqui.
Já percebi que milhares, provavelmente milhões, de pessoas usam seu blog desta maneira, especialmente as mais jovens. Abrem seus corações e despejam tudo que está lá dentro—seja bom ou seja ruim. Sentem-se à vontade de inventar… Ou de se re-inventar… Os seres humanos, hoje em dia, estão se acostumando a dar muito menos peso aos pensamentos que aparecem na tela “virtual” do que dão àquilo que era (e é) “concretizado” e quase “imortalizado” no papel.
Portanto, creio que será mais fácil para mim, enquanto no universo virtual, me desvencilhar da personagem “Isabel” que habita os contos que já foram publicados e que atualmente se encontram neste site que agora está virando blog.
Afinal, quando comecei a escrever minhas crônicas, achava melhor contar minhas experiências na terceira pessoa, através da personagem Isabel. Acreditava ser muito pedante, e até desaconselhável, permitir que meus relatos e minhas reflexões sobre os desafios e descobertas, dilemas e dúvidas, desavenças e doenças da minha vida, fossem levado ao conhecimento público, falando na primeira pessoa. Mas agora, neste novo meio de comunicação, será que não poderei ser apenas mais uma voz entre milhões que falam de si. Alguém bem escondida na multidão? Ou não?!
Aí que deve entrar outro propósito—o de honrar a Deus com tudo que faço. (Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa (como blogar), fazei tudo para a glória de Deus—1 Coríntios 10.31). Assim terei que fiscalizar e vigiar a minha recém-descoberta chance à espontaneidade. Continuo entendendo que algo para consumo público (especialmente o blog de uma pessoa que diz ser crente) tem que ser trabalhado. Talvez não tanto quanto exige uma revista, com horas de pesquisa, análise e revisão…
Entretanto, sinto que o blogar me livrará de alguns incômodos—como ser obrigada a dizer “ele falara” em vez de que “ele havia falado” ou “visitá-lo-ei” no lugar de “vou visitá-lo”. Espero que os puristas de plantão não se irritem muito. Outra coisa que não me atrapalhará mais é a questão do espaço. Sei que ser resumido pode ser uma virtude mas como me alegro em não ter que ficar verificando se já ultrapassei “9000 caracteres sem espaço” para depois passar horas a fim tirando ou reformulando pensamentos e palavras para agradar editores exigentes nesta área. Agora poderei inserir longos parênteses, divagar, ruminar, recapitular, brincar…
Ao mesmo tempo, a extensão e penetração da blogosfera me assusta, como também a rapidez e a força com que reações contrárias, fofocas e mal-entendidos se espalham. Temo que algo que eu escrever no blog inocentemente possa trazer ofensa para o nome do evangelho ou para o do meu marido. Não tenho nenhum ofício na estrutura da minha denominação além de ser esposa de alguém que tem. Gostaria que todos percebessem que não estou pretendendo dar a última palavra em nada… Muitas vezes, estarei apenas pensando alto na esperança que algumas pessoas poderão apreciar fazer isto comigo, talvez interagindo, contribuindo, perguntando, até questionando a respeito do assunto que estiver me intrigando naquele momento.
Como já falei, não tenho a formação nem a capacidade de raciocínio ou expressão dos teólogos que me cercam. Também não possuo aptidão de estudar a Palavra nas línguas originais nem condições de passar meu tempo lendo pesados livros teológicos. Posso até pesquisar algum assunto neles, mas são outros os livros que ficam na cabeceira da minha cama.
Peço, portanto, que não esperem, nem exijam, perfeição teológica, política, econômica, sociológica ou psicológica de mim quando me aventuro a escrever no meu blog! Isto não significa que não levo meu andar com Deus muito a sério. Mas é fato de vida que o nosso entendimento das doutrinas bíblicas vai sendo construído e firmado (e, às vezes, transformado) enquanto cresce ao longo dos anos. Estou sempre re-trabalhando a minha compreensão das coisas enquanto vou vivendo e analisando a minha realidade—tanto as maravilhas, belezas, bênçãos e prazeres que me alegram, quanto o sofrimento, perdas e violência que me cercam e atingem, nem sempre na mesma proporção. E tenho compartilhado isto, de certo modo, através das minhas histórias de Isabel.
Reitero que tem sido mais seguro para mim expressar-me através da Isabel das minhas crônicas. Além disto, tudo que vai para o prelo leva várias revisões, tanto em nível teológico quanto em nível gramático. Tenho certeza absoluta que isto me faz parecer bem mais sábia do que eu realmente sou. Muitas vezes, na vida real, acabo sentindo que tenho mais perguntas do que respostas, enquanto lido com as alegrias e tristezas do meu dia-a-dia. Isto vai transparecer muito mais agora.
Assim, não venham com quatro pedras na mão quando discordar de alguma observação ou declaração que eu possa aventurar. Já bastam as horas de sono que perco pensando nas possíveis críticas e desentendimentos quando falo em público! O resultado mais provável será que eu me fecharei novamente no meu casulo, relativamente seguro até agora, certa que a vontade de Deus para mim, daí em diante, será que apenas interaja com aqueles que me conhecem pessoalmente. E ficarei mais ansiosa pelo dia em que meus pensamentos serão aperfeiçoados e poderão voar livremente, na metamorfose que ocorrerá quando eu emergir transformada no lindo mundo que Deus já preparou para mim no céu.
Mas, por enquanto, espero ter tempo suficiente, e estrutura, para manter este blog. Gostaria de receber comentários, mas é possível que eu não vá ter sempre condições para responder a eles. Traduções, marido, filhos, hóspedes, igreja e algumas organizações tomam grande parte do meu tempo. Também estamos preparando o casamento da nossa filha em junho, Deus permitindo… Temos que encontrar e mudar para um novo apartamento em poucos meses… Aninha, minha “ajudanta” há dez anos (a Áurea das minhas crônicas) não pode mais trabalhar por estar esperando filho… Por enquanto, tenho a ajuda parcial da sua irmã e ainda não criei coragem de deixar outra pessoa entrar na minha vida. Assim, não sei se vou ter ambiente ou sossego para deixar os pensamentos fluir do coração/cérebro até o teclado ou a caneta. Vamos ver…
Na minha próxima postagem, pretendo compartilhar as reflexões que me vieram à mente enquanto escrevia, sobre o desenvolvimento da minha “carreira” como “escritora”.
Que, em algum momento neste dia, você possa saber que conseguiu agradar a Deus por ter-lhe obedecido, ainda que seja numa coisa pequeníssima aos olhos do mundo. A nossa fidelidade nas coisas pequenas garantirá a nossa capacidade de permanecer firmes nas horas do aperto. Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito. Lucas 16.10.
Betty
Olá, Betty
Parabéns por ter aceitado o desafio de ter seu próprio blog.
Quem lucra com isso somos nós, pessoas do cotidiano que poderemos ler seus textos maravilhosos.
Saiba que a cada texto lido ou palestra ministrada por você, sempre aprendemos muitas coisas.
Que Deus permita que este blog cresça e tenha muitos textos para podermos ler…meditar…e crescer através das suas experiências do cotidiano (às vezes de coisas tão pequenas vc tira lições enormes, passadas para nós pelos txts).
Bjs
Querida Helen:
Agradeço as palavras encorajadoras. Gostaria de merecê-las.
Fiquei comovida com sua participação no encontro de Terras de Santa Cristina, quando havia pedido que as mulheres trouxessem sua caixa ou vidro de botões ao estudo que tivemos.
Você, corajosamente, chegou quase de mãos abanando porque não havia iniciada o hábito de guardar os botões sobresselentes. Meio sem jeito, compartilhou o significado do único botão que havia trazido e do vestido que ele representava. Contou como uma REJEIÇÃO inicial havia se transformado não apenas em ACEITAÇÃO mas em APRECIAÇÃO. Tudo por causa do reconhecimento do amor da pessoa que lhe deu aquele vestido…
Este reconhecimento resultou de uma atitude que havia adotada com relutância. E creio que você mesma ficou surpresa com o resultado.
Se (num futuro bem próximo :-)), você tiver tempo livre, gostaria que contasse esta história num comentário no meu recém-postado texto (Pensando com meus Botões). Creio que pode estimular outras pessoas a enxergar os benefícios de olhar além do objeto presenteado para valorizar o carinho do doador, tanto o terreno quanto o celestial. Se, por acaso, trunquei algum detalhe da história, pode me corrigir…
Abraços da amiga, Betty
Querida Betty,
Que bom conhecer o seu Blog! Sou uma admiradora sua e de seus escritos que tanto enriqueceram a minha vida e me ajudaram no viver diário.
Que o nosso Deus continue iluminando a sua mente para continuar neste ministério tão edificante para nós mulheres cristãs!
Agradeço os materiais que me enviou para o artigo que escrevi sobre Rute e Noemi, foram bem úteis!
Um abraço,
Virgínia Canuto
Querida Virginia:
Apreciei seu comentário e espero que você esteja gostando da aventura de aprender como ser contente, feliz e significativa na sua nova vida como esposa e “mulher casada”. Ainda estou com as fotos que “os meninos” trouxeram de Recife e “downloadaram” no meu computador. Estava tudo de bom gosto e bem bonito! Gostaria de ter visto pessoalmente.
A minha vida, agora, deve ser bem parecida com a da sua mãe há um ano atrás–enquanto acompanho a minha própria filha em todos os detalhes do planejamento do “grande dia” dela. Comecei a anotar alguns pensamentos sobre o casamento–tanto sobre os detalhes do planejamento da cerimônia quanto o relacionamento em si–filosofando sobre as nossas experiências agora e também comparando o passado com o presente e procurando resgatar o que é bíblico (e, portanto, certo) de cada. Talvez saiam no blog no formato de cartas para minha filha. Seria uma maneira de perpetuar as conversas que estamos tendo e, talvez, um pouco da sensação de estar permanentemente numa montanha russa enquanto pesquisamos, resolvemos… pesquisamos, determinamos… pesquisamos, oramos e decidimos… Pelo menos é este o plano, se conseguir tempo em meio à profusão de compromissos e atividades.
Que Deus a abençoe, Betty
Beth, estou muito feliz em ver suas histórias novamente, sou leitora da SAF , e suas mensagens simples, se tornam edificantes em nossas vidas. Continue a nos proporcionar este prazer.
Beijos Vivian
oi mums! finalmente entrei no seu blog! Que bom que você esta escrevendo! É bom ler os pensamentos de uma pessoa que não só escreve coisas profundas, mas tambem vive profundamente as verdades de Cristo.
Olá , Beth, que prazer é ler os seus pensamentos.
Já tive oportuninade de ler algumas de suas crônicas na revista, e como me fizeram tão bem!
Louvo a Deus por sua vida, ela me motiva a dar meus primeiros passos nesta blogosfera, um sonho……escrever, timidamente, mas desejosa de compartilhar meus pensamento,. reflexões que o nosso Senhor nos dá.
Que Deus continue enriquecendo-a com este coração ardente de compartilhar conosco seus pensamentos e nos abençoando.
Um abraço de sua irmã em Cristo,
Marilene
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Olá, Marilene:
Sabe, é algo meio temerário, este negócio de escrever um blog. As palavras que antes compartilhávamos com uns poucos parentes e conhecidos, de repente começam a rodar o mundo e são “ouvidos” sem o conhecimento daquela que lhes proferiu, sem ouvir o tom da sua voz e sem enxergar as expressões do seu rosto. Por outro lado, a gente tem a possibilidade de estudar, pesquisar, pensar, esperar, repensar e re-escrever antes de empurrar o “enviar”–o que não é possível quando “apenas” abrimos a boca para nos comunicarmos. Portanto, sempre gostei muito mais de escrever do que de falar sobre coisas da mente e do coração (exceto com umas poucas pessoas que já me amam…)
… Desejando alegria e paz para você e os seus. E que Deus possa te usar e abençoar na sua própria incursão na blogosfera!
Da irmã em Cristo,
Betty